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Saúde

Nossa alimentação é parte da nossa identidade

A comida carrega muitos significados diferentes

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Márcia Terra, membro da diretoria da SBAN

 

A comida carrega muitos significados diferentes, pois está intrinsecamente ligada à nossa cultura. Pratos tradicionais, receitas familiares e métodos de preparação são transmitidos de geração em geração, o que permite perpetuar a identidade cultural de um povo. Comer juntos é uma maneira de fortalecer laços e relacionamentos. As refeições compartilhadas promovem a comunhão, permitindo que as pessoas se conectem e compartilhem suas vidas. Preparar uma refeição para alguém é uma maneira comum de demonstrar afeto. Não é exagero dizer que o que comemos, e como comemos, nos define. E é exatamente por isso que falar sobre comida é sempre delicado. Muitas vezes, crenças pessoais superam fatos em uma batalha de narrativas 

 

Podemos começar pela obesidade. Dados do IBGE mostram que seis em cada dez brasileiros estão com sobrepeso e 20% estão obesos. Ao contrário do que muitos imaginam, o consumo de determinados alimentos não é o fator causador determinante da obesidade. Na verdade, ele é pouco relevante se for analisado de forma mais ampla. Além dos aspectos genéticos, os fatores que mais influenciam a incidência da obesidade são estilo de vida, modo de trabalho, condições socioeconômicas e sedentarismo.  

 

Existem propostas na Reforma Tributária que sugerem a adoção de cobranças sobre produtos considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente, como forma de inibir seu consumo. Essa medida pode afetar os preços de alimentos e bebidas que consumimos todos os dias. Para além do debate sobre quais seriam os critérios para classificar um produto como prejudicial à saúde, já existem dados reportando que países que adotaram esse tipo de imposto, apesar de apresentarem uma queda no consumo, não registraram diminuição substancial nos níveis de obesidade. 

 

Como nutricionista, não acredito na existência de alimentos ou bebidas boas ou ruins. Um alimento ou bebida ruim é aquele que está estragado e impróprio para consumo. Da mesma forma, não há comida de verdade e comida de mentira. Comida é comida! O que temos são dietas e hábitos nutricionais inadequados e desbalanceados. Nenhum alimento, de forma isolada, é capaz de fazer uma pessoa engordar. Isso não quer dizer que você pode comer a quantidade que quiser, de tudo, o tempo todo. O excesso de qualquer coisa, inclusive água, é prejudicial. A chave está na variedade e na moderação.  

 

Qualquer tentativa bem-sucedida de combater a obesidade de forma sistêmica precisará adotar uma abordagem abrangente. São necessárias estratégias que vão muito além de intervenções grandiosas de cima para baixo, como aumento de impostos e campanhas difamatórias sobre alimentos e bebidas. A verdadeira mudança só ocorrerá com ações de baixo para cima, partindo do nível comunitário e individual, ajudando pessoas e comunidades a se informar melhor sobre saúde, alimentação e atividade física, além de promover um olhar para a saúde mental. 

 

Não podemos ignorar o desequilíbrio entre consumo e gasto calórico, especialmente nas populações de baixa renda. A vulnerabilidade maior nesta parcela da sociedade pode estar relacionada ao acesso a alimentos mais baratos e pobres em nutrientes, com alta densidade calórica. O baixo nível de instrução prejudica o entendimento das informações nutricionais dos produtos, o que contribui para hábitos alimentares desequilibrados. A taxação extra sobre alimentos e bebidas impactará especialmente essa população, a que mais vai sentir o peso desses tributos. 

 

A crença de que, ao taxar os alimentos ditos “ruins” as pessoas serão forçadas a fazer escolhas alimentares mais “saudáveis”, ignora a autonomia alimentar. As pess0as comem o que gostam e, principalmente, o que podem comprar. Autonomia alimentar envolve o acesso a uma quantidade diária de alimentos a um custo razoável, bem como o poder de escolha e decisão sobre que tipo de alimento consumir, de acordo com seus valores culturais e pessoais.